Vida, Morte e Ressureição de José Maria, nosso santinho no céu

Escrevo este post em setembro de 2025, seis meses após a páscoa de nosso último filho, José Maria. Desejo deixar registrado mais este milagre que Deus realizou em nossas vidas pois, apesar de nossas graves limitações e pecados, Ele sempre é fiel e amável.

Esse filho, foi para mim, uma resposta para uma dúvida pessoal que me assolou por um longo tempo: nos dias de hoje, nas circunstâncias culturais e morais em que vivemos, na família em que nascemos e no estado de vida em que estamos, podemos ser santos ? Ou ainda: como posso eu ser santo se ao menos nunca nem conheci um santo, quem dirá viver com um? Pode um médico ser médico sem conhecer outros médicos? Um professor aprender sem antes ter tido um professor?

Ao perguntar para Deus em oração, não obtive nenhuma resposta. Porém como é da Sua natureza o capricho em todas as coisas, me enviou esse menino.

A Boa Oração

Em meados de junho de 2024, minha esposa, Raquel, teve a brilhante ideia de fazer uma oração à Deus em uma novena de São João Batista mais ou menos assim: Senhor, se for de sua vontade, mande mais um filho para nós, mas que seja para nossa santificação.

Na época tínhamos dois filhos na terra (Maria Rita de 4 anos e João Miguel de 2 anos) e outros três não nascidos no céu, o qual nomeamos Maria Teresa, João Batista e José. Após três perdas, o diagnóstico da trombofilia e as muitas dificuldades nas gestações e partos anteriores, Deus resolveu que seria bom para nós mais uma gestação. Porém, cuidou para que essa fosse a mais especial.

Eclesiástico 2-1
Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação;

Primeiro Ultra-som

Após algumas suspeitas da gravidez, antes mesmo do teste, Raquel já sabia: estava grávida. Comentava comigo antes mesmo de fazer o teste e obter confirmação de que Deus estava enviando mais um filho para nós.

Após o teste de gravidez, ficamos muito felizes. A ideia de ter um terceiro filho, apesar de não sermos mais tão jovens, sempre nos pareceu natural. Assim seguimos para nosso primeiro ultrassom.

Aqui, começamos a nos deparar com situações um tanto inusitadas, que mais tarde provariam ser verdadeiras batalhas espirituais. Nosso médico da gestação do João Miguel, que confiávamos bastante, simplesmente não tinha agenda para nós. Como Raquel precisa de um medicamente diário (injeções) para combater a trombofilia e evitar abortar, nos vimos numa situação difícil: esperar ou trocar de médico? Resolvemos então seguir para uma médica diferente.

Depois, encontramos diversas dificuldades para simplesmente marcar o primeiro ultra-som. As clínicas não tinham horário. Finalmente conseguimos um horário em uma clínica em Barra Mansa, cidade que fica a quase uma hora de viagem de Queluz, onde residimos. Durante a viagem para esse ultra-som, saímos com antecedência. Porém, na viagem, nos deparamos com três congestionamentos inexplicáveis (não haviam obras, nem acidentes) e perdemos a hora do exame.

Finalmente marcamos o exame em uma clínica em Resende, 30 minutos de viagem. Este primeiro ultra-som daria o tom das nossas batalhas futuras. Ao chegarmos na sala de exame, a médica sempre muito feliz e sorridente. Até que de repente, o clima muda, a doutora cerra a fronte e as conversas cessam: alguma coisa errada.

No final do exame ela nos chama e explica a condição de nosso filho: acrania aos 3 meses de gestação era grave e a criança não teria condições de sobreviver se a cabecinha não se fechasse nas próximas semanas. Não chegamos a ficar desesperados com a triste notícia. À medida em que ela ia descrevendo o prognóstico, porém, uma aflição ia tomando conta do meu coração, pois pensava o que seria dessa criança com uma má-formação tão grave. Porém não perdia a lembrança da Virgem Maria, ela que é mãe e cuida de todos nós. Comentei inclusive com a médica, que acima de tudo, para Deus, nada era impossível e que um milagre poderia acontecer.

Após o triste exame, fomos para a sala de espera aguardar o resultado. Fomos instruídos pela médica a nos dirigirmos o mais rápido possível para a obstetra, a fim de traçar uma estratégia para a gravidez. Engraçado como os médicos sempre pensam ter uma ‘solução’ para tudo.

Porém, minha esposa teve uma ideia melhor: ir na missa. Como estávamos em viagem, seria possível chegar em tempo para a missa das 15 horas em Cachoeira Paulista, no Santuário do Pai das Misericórdias.

São Mateus 7,7-8
Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.
Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, se abrirá.

O Milagre Na Santa Missa

É estranho se aproximar de Deus quando estamos em situações extremas, de vida ou morte. É como se orássemos com o coração e não com a inteligência e ou palavras. É diferente. Parece que entramos em uma linha direta com Deus onde não temos que nos explicar ou mesmo buscar entendê-Lo. Simplesmente entramos em sintonia.

Os momentos em minha vida onde fiz minhas melhores orações foram esses. Antes, com minha sogra, diagnosticada com morte cerebral. E agora novamente com o José Maria, que estava condenado pela má formação que o assolava. Nesses momentos não são necessárias palavras ou entendimento. Basta inclinar a vontade naquela direção, e Deus faz o resto. É a Misericórdia. É fácil entender. Quando passamos ao lado de uma pessoa rica, não sabemos o que ela precisa ou pensa. Mas ao nos depararmos com um mendigo doente, pobre e cheio de feridas, não sabemos instantaneamente o que ele precisa sem precisar lhe perguntar nada?

São Mateus 5, 3-4
Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!

Deus literalmente se dá aos pobres. Deus consola o que chora. Nada como o consolo de Deus.

Ao chegar na Santa Missa, o Evangelho lido no dia era o da cura do servo do centurião (São Mateus 8, 5-13). Imediatamente ao ouvir a pregação do Padre Adriano Zandoná, homem grande na fé, percebi que Deus agia em meu interior e meu coração ia se estreitando com o Espírito Santo, que me conduzia a um entendimento de que nós eramos aquele centurião e que nosso filho era o servo que estava sendo curado. Ainda durante a homilia, declarei para Raquel nestes termos: o menino está curado. Depois na ação de graças, senti fortemente o Senhor me consolando e me dando uma força que não era minha. Toda aflição e agitação que sentira horas antes no diagnóstico havia cessado. Uma paz indescritível tomou conta do meu coração. E depois da missa fomos tranquilamente tomar um café e aproveitar o restante da tarde, na certeza de que nosso filho estava curado.

Hoje, olhando para esse momento e considerando tudo que vivemos, vejo claramente que a cura que Deus ministrou seria muito mais que um simples remendo na cabeça da criança para que ela vivesse. Ali, naquela Santa Missa, o José Maria, desenganado pela medicina e sem esperanças de um poucos meses de gravidez, tinha recebido o Reino dos Céus, que é o próprio Jesus, pela nossa fé e pela nossa decisão de buscar primeiro a Deus antes dos homens!

Depois desta unção, nenhuma situação envolvendo o José Maria nos tiraria a paz. Enfrentaríamos todas a difíceis situações com calma, paciência e acima de tudo, caridade.

A Gravidez

Consolados por Deus, fortalecidos por seu Santo Espírito, vivemos toda a gravidez do José Maria em paz e com muita providência.

Apesar do diagnóstico complicado, tudo correu muito normal. Conseguimos rapidamente as injeções contra trombofilia na farmácia municipal, pois cada dose, que precisa ser diária, pode chegar a 90 reais! Um grande sinal da providência.

Nossa situação financeira nunca foi confortável, embora o necessário nunca nos false. Porém alguns meses depois da descoberta da gravidez, minha tia resolveu parar de dirigir e me deu seu carro. Disse que foi rezar no Santíssimo e que ao perguntar o que fazer, o Senhor lhe disse: entregue para o Marquinho, ele saberá o que fazer.

Como já tinha um carro, aceitei o presente dela e vendi o meu. Esse dinheiro nos ajudou durante toda a gravidez e foi um verdadeiro sinal da providência e da bondade de Deus, pois não passamos sufoco nem apertos, especialmente com tantas idas aos médicos, exames e remédios, sempre no particular.

Alguns incidentes porém, tornaram a gravidez do José Maria muito especial para mim. Sempre que ouvia minha voz por exemplo, segundo a Raquel, ele pulava. Além disso, os médicos disseram que ele não teria muita reação como um bebe normal, que reagiria apenas por reflexos. Porém percebemos que ele não só reagia, mas também agia por conta própria, realizando movimentos mesmo quando sem incentivo direto.

Um episódio porém nos chamou muito atenção: certa vez ao ouvir músicas aleatoriamente no Spotfy, minha esposa percebeu que de repente o José Maria começou a mexer sem parar nessa canção em especial, a ponto de fazer com que ela tivesse que parar em suas atividades:

Tão pequeno sou, humilde, e frágil, e tão pobre
Mas aqui estou, Jesus
Não posso compreender aquilo que eu não enxergo
Mas posso sentir em mim

Esse amor que me consome e que me faz
Querer sentir mais
Esse amor que me transforma e faz voltar
Ao meu lugar

Eu vou voar até te alcançar
E livre serei aos teus pés, ó meu senhor
Eu vou lutar até alcançar
O meu céu, mais lindo céu, meu lar
Onde o meu coração está

Esse amor que me consome e que me faz
Querer sentir mais
Esse amor que me transforma e faz voltar
Ao meu lugar

Eu vou voar até te alcançar
E livre serei aos teus pés, ó meu senhor
Eu vou lutar até alcançar
O meu céu (o meu céu), mais lindo céu, meu lar
Onde o meu coração está

Céu, meu céu, meu lugar
Voltar pra casa

Eu vou voar (até te alcançar)
E livre serei aos teus pés, ó meu senhor
Eu vou lutar até alcançar
O meu céu, mais lindo céu, meu lar
Onde o meu coração está

O Espírito Santo dizia claramente que José Maria iria para o céu, e este era o seu verdadeiro lar, o objetivo de Deus para ele.

Perseguição Espiritual

São Mateus 18, 3-7,10
Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse:
“Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus.
Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos Céus.
E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe.
Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar.
Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai do homem que os causa!
Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus.

Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes. Não existe ninguém mais humilde que uma criança indefesa no ventre de sua mãe, dependendo de tudo e todos em seu entorno para meramente existir.

Durante as consultas e exames do José Maria, um padrão de comportamento se repetiu em praticamente todos os médicos que nos falaram: todos, sem exceção, sugeriram o aborto.

Isso nos chocou enormemente. De repente, aquelas pessoas amáveis, educadas e bem instruídas, que faziam carinho em nossos filhos e nos tratavam com a mais respeitosa atitude, fechavam seus semblantes durante a consulta ou exame e sugeriam o assassinato do José Maria como se isso fosse um procedimento normal e de rotina.

Após a óbvia negativa e manifestação de repulsa, a médica anotou em nossa ficha que o casal iria seguir com a gravidez. Depois disso, não conseguimos marcar um importante exame numa prestigiada clínica. Nenhuma razão nos foi dada. Suponho que eles não estavam muito abertos a nos receber.

Porém o inimigo é astuto. Os ataques começavam nas clinicas e consultório, mas seguiam noite a dentro contra minha esposa, que ouvia vozes que a desanimavam, menosprezavam e insistiam para que ela matasse o menino. Foram noites difíceis, mas que só serviram para aproximar ela ainda mais de Deus. Ela acabou por criar uma vida de oração noturna mais intensa para se proteger e defender o José Maria através da Fé e do Santo Rosário.

Hoje quando analiso e relembro das cenas tenebrosas que passamos, vejo como a cultura do aborto é sinistra e silenciosa: uma rede de profissionais e pessoas de confiança que, no momento mais difícil da sua vida, oferecem uma pílula mágica: basta tirar a criança e tudo estará resolvido.

Na prática o José Maria nunca correu nenhum risco: ele sempre esteve seguro nas mãos de Maria e de Jesus.

O Parto

Vida e Morte de José Maria

Páscoa e Ressureição

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