O cartão é uma grande ferramenta no dia a dia de qualquer pessoa moderna. Com ele podemos pagar por nossas compras sem a necessidade de possuir dinheiro físico. Isto cria a facilidade de não precisar carregar dinheiro por aí.
Assim, o cartão acaba eliminando um problema sério que temos na hora de fazer compras de alto valor. Imagine comprar uma TV na faixa dos R$1.200. Na hora do pagamento, sem o cartão você precisa ir até o banco, sacar este alto valor e levar na loja. Com o cartão, basta passá-lo e o dinheiro sairá imediatamente da sua conta para a conta da empresa.
O exemplo acima explica o funcionamento básico de qualquer cartão: transferir recursos de uma conta (a sua) para a outra (a da pessoa/empresa que você deve).
Mas e quando você não tem o dinheiro em sua conta (ainda)?
Cartão de Débito vs Crédito
Quando você tem a disponibilidade do recurso em sua conta bancária (tem dinheiro!), você não precisa emprestar do banco. Entra em cena o cartão de débito. Esse cartão tira imediatamente o valor de sua conta bancária e o saldo diminui.
Entretanto, na situação onde não temos o dinheiro imediatamente disponível em nossa conta, o banco pode oferecer um empréstimo pelo cartão. Esse dinheiro emprestado não é depositado em sua conta. Ao invés disto, o banco lhe oferece um cartão diferente do cartão de débito, chamado, cartão de crédito.
O cartão de crédito na verdade não é um movimentador de recursos que você possui: quem paga pelos gastos é o banco. Com o cartão de crédito, a saída de dinheiro não acontece da sua conta para a conta de quem você deve: ao invés disto, o banco paga pra você e futuramente você paga o banco.
No momento em que você colocou o banco na jogada, como pagador de sua despesa, duas coisas importantes acontecem:
- Você não paga imediatamente o que deve
- Você passa a dever para o banco
Efeito do cartão de crédito sobre a nossa mente
Quando adquirimos algo e não pagamos imediatamente, recebemos o bem sem ter gasto (na hora) para tê-lo. Consequentemente, temos um poder de compra maior, pois sobra mais dinheiro para gastar.
Opa, como assim Marco, eu ainda tenho que pagar o banco!
Sim, mas … o cartão de crédito tem uma sacada muito bacana (para o banco): ele te empresta o dinheiro por 30 dias! Isso mesmo. Durante 30 dias, até o vencimento da próxima fatura, você não precisará pagar o dinheiro que o banco lhe emprestou, embora já tenha o bem adquirido em mãos.
Esse prazo de 30 dias cria em nossa mente uma falsa sensação de que possuímos mais dinheiro do que realmente ganhamos. O que de uma certa forma é verdade. Afinal, após a compra do bem, possuímos a mesma quantidade de dinheiro do que antes. Incrível. Ou ainda: mesmo sem ter o dinheiro agora, pude comprar o bem.
Contudo, uma dívida foi criada. O problema é que nossa mente não enxerga despesa e dívida da mesma forma. Uma despesa é algo que você paga imediatamente e sente (entende) que saiu do seu bolso. Isso dói (e em alguns casos, bastante!) porque reduz o seu poder de compra imediatamente.
Uma dívida, porém, é algo muito abstrato, que só existe no papel. Isso não causa desconforto e não reduz de imediato sua capacidade de compra. Experimente dever um valor que ninguém lhe cobra: é como se você não devesse. Por isso é importante para as instituições financeiras cobrar (insistentemente) para receber: senão o cérebro da pessoa acostuma e até ignora a dívida.
Então, o cartão de crédito tem o incrível poder de transformar despesas (doloridas) em dívidas (esquecidas). Esse efeito nos entorpece: de repente uma atividade dolorida, pagar por algo, se torna algo divertido e trivial.
O efeito do cartão sobre nossa renda
No final do mês em que utilizamos nosso cartão, aumentamos incríveis 30 dias em nossa renda. Mas como assim?
No início do mês em que você recebeu o cartão de crédito fresquinho em sua casa, ganhou 30 dias para pagar o dinheiro gasto com este cartão.
Logo, podemos deduzir que seu poder de compra se desenvolveu da seguinte forma com a chegada do cartão de crédito:
- Mês anterior a chegada do cartão: Salário Mensal (apenas)
- Mês da chegada do cartão: Salário Mensal + Limite do Cartão
Você terá que pagar a fatura todos os meses, porém até pagar a primeira, terá um prazo de 30 dias. Ou seja, o dinheiro não sairá da sua renda naquele mês.
Esse aumento de renda não irá diminuir nos próximos meses, quando você pagar a fatura do cartão de crédito. Afinal, o limite sempre será renovado, e você terá novamente 30 dias para pagar a próxima fatura.
O perigo de usar esse complemento como renda
A ideia do cartão de crédito é emprestar mais dinheiro para você. É um empréstimo financeiro legítimo, com contrato e tudo. Todos os meses ao usar o cartão, você estará emprestando dinheiro de seu banco.
Isso pode se tornar um hábito perigoso quando você começa a pagar suas contas com ele. Imagine: todos os meses você empresta dinheiro de alguém para pagar as contas. No final do mês você paga ela. Sabe como isso se chama? Comprar fiado!
Comprar fiado é um péssimo hábito, pois quando um imprevisto acontece e você não consegue pagar o que deve, o agiota (ops! o banco) pode cobrar juros altos pelo que você deve a ele.
E quando você cria o hábito de complementar sua renda com aqueles 30 dias que o banco lhe deu para devolver o dinheiro que você pegou emprestado, corre o risco de não ter esse complemento de renda ao atrasar a fatura, e ainda por cima dever os juros!
Além de precisar de mais dinheiro para pagar o que deve, pois terá que pagar juros, terá menos dinheiro a sua disposição no próximo mês, visto que gastou mais com juros. Isso cria a famosa bola de neve que muitos de nós não conseguimos mais sair.
Então não podemos ter cartões de crédito?
Podemos sim. Acredito que um cartão de crédito, com alto limite e um baixo valor de anuidade é uma excelente ferramenta para altos pagamentos emergenciais.
Quando minha esposa teve uma crise de vesícula, tivemos que fazer um empréstimo consignado com urgência para pagar. Mas e se não tivéssemos conseguido fazer o empréstimo a tempo?
Assim, o cartão de crédito é uma excelente oportunidade de garantir um crédito rápido para uma situação de emergência, onde muitas vezes nem teremos muito tempo para pensar em dinheiro.
Porém, fora essas situações extremas não vejo toda essa necessidade que o mundo impõe sobre nós em utilizar o cartão de crédito para parcela até a feira da semana.
Melhor é poupar mensalmente para emergências e evitar empréstimos a todo custo, especialmente no cartão de crédito.