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Como trabalhar 4 horas por dia mudou minha vida

Photo by Snapwire from Pexels

Desde o dia 18 de agosto de 2019, resolvi combater meu vício em trabalho com uma atitude, aparentemente à época, impossível: trabalhar apenas meio período.

Na verdade, foi um voto à Deus. Uma atitude de adoração, visto que nos últimos 15 anos de minha vida, vinha colocando a carreira, o sucesso e dinheiro acima de todas as coisas (idolatria).

Sem dúvida, ao rever os 10 mandamentos, o que mais acho difícil de obedecer é o primeiro: amar a Deus sobre todas as coisas.

Para quem você dá o seu melhor?

Sem dúvida, eu não dava para Deus. Acordava já pensando em trabalho. Nas manhãs antes de casar, nem café tomava, depressa me dirigia para longas e exaustivas horas de trabalho.

Depois do casamento melhorei um pouco. Minha esposa, uma verdadeira benção, sempre me alertou sobre esse excesso e como ele não levava a nada, apenas à agitação.

Nos últimos anos comecei a reduzir bastante minhas jornadas de trabalho. Após ser diagnosticado com transtorno de ansiedade, fui forçado a trabalhar menos.

Lembro-me que no auge, quando provavelmente trabalhava 12 horas por dia, sentia um certo prazer nisso. Era gostoso fazer todas aquelas coisas. Me fazia sentir como se eu fosse um super homem. Uma criança num parque de diversões.

Sim, workaholics gostam e muito de trabalhar, eu reconheço sou um deles.

Longas horas de trabalho são recompensadas neste mundo com dinheiro. E consequentemente, um padrão de vida e hábitos que vem junto com essa abundância financeira.

Quando se trabalha muito e se é bem recompensado por isso, não se olha o saldo no banco. Gasta-se sem se preocupar. E por aí vai.

O problema é que cada hora de trabalho além do necessário, gera um desgaste e uma perda. O desgaste é tanto físico como psicológico, e claro, acaba afetando a qualidade de vida.

Por melhor que seja um trabalho, sempre há algum estresse e esforço envolvivos.

Mais além do desgaste, trabalhar mais do que o necessário gera uma perda de oportunidade. Quando se está trabalhando deixa-se de rezar, de visitar, de estar junto, de pensar, de ler, de escrever, de cuidar de quem se ama e por aí vai.

Por fim, trabalhar demais estava me tornando um escravo. Se liberdade é a plena faculdade, o livre arbítio, a capacidade de dizer sim ou não segundo a sua consciência, quando trabalhamos muito fazemos exatamente o contrário.

Nossa vida diminui drasticamente, pois está concentrada naquele meio específico de pessoas e situações: o trabalho. Tudo passa a girar em torno do trabalho. Vamos sair sábado à noite? Não posso vou fazer hora extra!

Vamos fazer uma adoração quinta feira às 15 horas? O que!? Você está louco(a)? No meia da tarde em plena quinta feira!

A liberdade vai diminuindo cada vez mais à medida que os anos passam. O jeito de vestir, os lugares frequentados, as expectativas, tudo vai se resumindo à realidade do trabalho.

Mas será possível tomar um outro caminho? Com a ajuda de Deus e um pouco de coragem, é possível.

Se você já chegou à conclusão que não encontra felicidade trabalhando muito e só faz isso porque precisa, já deu um passo importante rumo à liberdade. Essa foi a parte mais importante para mim. Acreditava que a minha felicidade estava em ter sucesso profissional e ganhar bem. Era uma mentalidade que foi formada em mim desde pequeno por minha família, feita de pessoas altamente trabalhadoras e mais tarde pelas escolhas que fiz.

Mudar a mentalidade de trabalhar muito é bom, é o correto, é valoroso para trabalhar muito é apenas necessário é o primeiro passo.

A razão da minha vida = idolatria

É claro que existem contextos onde a única saida é trabalhar muito. Situações de pobreza extrema exigem das pessoas medidas e esforços extremos, infelizmente. Mas nestes casos, conta-se com a graça de Deus.

A diferença está no sentido do trabalho.

Uma pessoa que trabalha muito pois precisa sustentar a família, cuidar dos seus, cumpre a vontade de Deus.

O problema é quando trabalhamos muito para manter um padrão de vida e uma imagem incompatíveis com a vontade de Deus para nós.

Esse é o segundo passo que tomei no processo. Depois de me convencer que não precisava trabalhar tanto (comecei pensando que 8 horas por dia estava ótimo!), passei a reduzir meu padrão de vida.

Esta etapa, embora não seja a mais importante, é a mais difícil e demorada. É preciso muito humildade para reduzir o padrão de vida que se tem deliberadamente. Apenas com oração e a graça de Deus podemos fazer isso.

A humildade me ensinou a perceber, primeiro quem eu era. Era abastado, acostumado a coisas boas e caras, prazeres, passeios à vontade, mandar, ir e vir quando queria, etc.

Pois bem, não se pode mudar do dia para noite. Comecei então a exercer a virtude da humildade (que Deus dá a todos nós) aos poucos.

Um exemplo que marcou muito foi quando, depois de passar longas horas sem comer ao lado de minha sogra no hospital com minha esposa, ao chegar em uma lanchonete na Canção Nova, a vendedora perguntou:

Como você quer seu pão? E apresentou 3 opções. Naquele momento eu escolhi a opção mais simples: pão com manteiga. Esse momento mudou minha vida!

Só pode ser a graça de Deus, pois saí dalí chorando por estar comendo um pão com manteiga e um filme passou em minha mente de todas as vezes em que sempre escolhi os melhores pratos, do cardápio, e sentia uma certa vergonha até de falar alto perto dos outros quando pedia o mais barato!

Esse é apenas um de muitos exemplos. Aos poucos fui comendo menos carne vermelha (que na minha região é a mais cara) para comer mais ovos e peixe.

Paramos de frequentar restaurantes caros, e começamos a fazer jantares especiais em casa. Deixamos de rodar tanto com o carro, e gastamos menos combustível. Conservamos mais nossas roupas, e compramos menos.

Ao reduzir nosso orçamento, claro, reduzimos também a necessidade de ganhar tanto dinheiro e trabalhar mais.

Três anos após o início desta conversão, hoje nosso orçamento é menos de um terço do anterior.

Escolher a modalidade de trabalho também ajuda, bem como onde e com quem se trabalha. Os ditos melhores de nosso tempo, tendem a ostentar longas horas de trabalho, muitas vezes infladas, mas reais. É preciso renúncia.

Existem pessoas que são muito exigentes consigo mesmo e com outros. Qualquer coisa menos do que o melhor é inútil para elas. Eu era assim.

Porém existem pessoas que querem uma solução e pronto. Buscam resultados. Essas pessoas não olham para o relógio para saber se você trabalhou 1 ou 12 horas. No meu caso, esses são os melhores clientes.

Finalmente, busco continuamente aumentar a eficiência do meu trabalho. Aqui a experiência me ajuda bastante. Sempre gostei da lei de Pareto (80 / 20) que nos mostra uma feliz realidade: 80% dos resultados vem de 20% dos esforços.

Procuro sempre focar os 20% dos esforços, fazendo-os com o máximo de qualidade. Os outros 80% repenso, automatizo ou simplesmente ignoro.

Essa constatação científica nos mostra como Deus nos ama. É como se a natureza nos dissesse: se você trabalhar 20% do que está trabalhando hoje, vai ganhar 80% do que está ganhando. Pense nisto, peça a ajuda de Deus e mude sua vida!

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