Porque o matrimônio ainda vale a pena

Este ano, minha esposa e eu fazemos 9 anos de casados (não somos nós na foto, ela é mera inspiração). Quando demos nosso sim um para o outro e para Deus, eramos bem jovens. Ela tinha 21 anos e eu 23. Na época me achava velho, porém hoje quando vejo jovens se casando fico preocupado: será que estão prontos?

Falando assim até parece que sou muito velho. Porém, novamente, é como me sinto. Tenho 33 anos. A pergunta que me faço neste momento é: vale a pena o matrimônio?

A resposta é simples e direta: vale muito a pena. Vejo que graças a nossa união (eu, minha esposa e Deus), evoluí primeiramente como pessoa. Quando nos casamos, meu nível de egoísmo era muito alto. Possuía muitos hobbys e atividades que consumiam grande parte do meu tempo. Sonhava sozinho. Carreira, trabalho, decisões, tudo era eu e eu. Não me sentia solitário, mas era sem o saber.

Hoje fico impressionado com a minha capacidade de doação e entrega. As vezes passo semanas sem fazer algo exclusivamente para mim (fora claro tomar banho, escovar os dentes, etc). Isso em situações extremas, como a vinda de um filho ou quando o outro está doente. Em condições normais, é correto e sadio que tenhamos um tempo exclusivo para nós mesmos, principalmente momentos de silêncio e oração.

Mas a questão que levanto não é se vale a pena estar casado, no sentido humano da palavra. Homem e mulher dividindo tudo sob o mesmo teto. A questão mais profunda é: por que valeu a pena estar unido desde o princípio com Deus? Se tivéssemos apenas ido morar juntos, nossa vida seria diferente?

A resposta para essa pergunta exige fé. Sem fé é impossível agradar a Deus. Mas sem fé, infelizmente, também é impossível enxergar Deus na relação. Ele é o grande responsável pelo nosso crescimento espiritual. Um casamento sem Deus está fadado a durar pouco ou pior: ser um casamento de fachada, de conveniência.

Com Deus, a relação atinge um nível totalmente diferente. Não somos mais dois corpos, mas um único corpo em total sintonia com a vontade de Deus. As graças que recebemos são impressionantes.

A primeira grande Graça, e mais visível que aponto como vantagem do matrimônio é a fidelidade. O casal unido a Deus cresce cada dia na fidelidade. Como homem, sinto cada vez menos a necessidade de outras mulheres. Quando era jovem, lembro que deseja possuir a todas. Agora desejo possuir totalmente uma: a minha. Mas atenção: esse sentimento não é algo natural e sim algo sobrenatural que vem de Deus.

A segunda coisa que noto é o crescimento da caridade. Quando vemos casais antigos, com 50, 60 anos de matrimônio, logo nos questionamos o que os levou a uma união tão longa. Mas a resposta é simples: a presença de Deus que gerou no coração dos dois a verdadeira caridade.

Isso ao meu ver acontece pois o matrimônio é a forma mais perfeita do cumprimento do que Jesus nos ordenou em São Mateus 22,37-39:

Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).38Este é o maior e o primeiro mandamento.39E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).40Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.

Ora, quando fazemos um juramento na presença de Deus por toda nossa vida, e cumprimos esse voto de todo coração, não estamos amando a Deus de todo coração? Afinal de contas, é fácil viver com uma mulher e sair escondido com outras. Mais fácil ainda é acessar pornografia na internet escondido da esposa, ela não suspeitará. Ou quando damos aquela olhadinha discreta no vestido da vizinha, quem se importa? Deus se importa! Quando juramos a fidelidade na presença de Deus, temos que mudar o mais íntimo de nosso ser, pois Ele tudo vê e fica triste com esses enganos. Então quando abrimos mão até do menor ato de infidelidade escondido, estamos amando a Deus sob todas as coisas!

O segundo mandamento diz que temos que amar nosso próximo como a nós mesmos. Aqui levanto duas questões: quem é a pessoa mais próxima de nós mesmos neste mundo? E segundo, o que é amar o outro como a nós mesmos?

Será que quando damos comida a um pobre mendigo, estamos amando-o como a nós mesmos? Acho que não, pois para um mendigo dou pão com carne moída uma vez por ano, e nem conheço direito ele. Ou seja, estou amando ele, mas como a mim mesmo?

Agora, para minha esposa partilho a mesma comida que como todos os dias de minha vida, e conheço bem ela. Conhecer o outro faz toda a diferença quando se trata de amar.

Ajudar pessoas de fora é muito mais fácil que ajudar nosso cônjuge: parece que não estamos fazendo mais que a nossa obrigação, não aparece para a sociedade e ainda por cima não há recompensa nenhuma. Em outras palavras, a caridade perfeita.

Quando amamos pessoas que não conhecemos a fundo ainda, fica mais fácil no início, pois não precisamos tocar na alma da pessoa, e nem ela na nossa. Já participei de grupos de caridade onde ajudávamos as pessoas, mas como nãos as conhecíamos direito, parecia que ficava faltando alguma coisa.

O oposto disto é quando nos doamos a alguém muito próximo de nós. O casal além de tudo, ainda se conhece intimamente, tornando a união ainda mais completa, e por que não, difícil.

E aqui vem outra grande vantagem espiritual do matrimônio: ele ordena as nossas paixões.

Vejo casais que não buscam a Deus em primeiro lugar em suas vidas com dificuldades não apenas no casamento, mas em diversos outros aspectos fundamentais, como criação dos filhos, dificuldade para lidar com irmãos, dificuldade para perdoar, colocam o dinheiro em primeiro lugar na vida e trabalham demais, etc.

Essas pessoas não estão vivendo o lado espiritual do casamento, o matrimônio. Digo isso pois não estão enxergando e priorizando aquilo que é fundamental. Quando não colocamos Deus na relação nos perdemos facilmente nas coisas do mundo.

Por outro lado, o matrimônio segundo a vontade de Deus nos leva a priorizar a família à carreira. Nos leva a consagrarmos nossos filhos a Deus, e orarmos por eles. Nossos amigos passam a confiar mais em nós, pois não estamos competindo com eles, estamos verdadeiramente preocupados com eles. E assim por diante.

Todo esse crescimento espiritual vem naturalmente com o matrimônio, basta nos entregarmos de mente aberta a Deus e seus desígnios como casal.

Num mundo que nos ensina a investir em educação, saúde, carreira e status, hoje vejo que o matrimônio foi o melhor investimento que fiz em minha vida.

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