Neste mês de março de 2020, Deus nos enviou o maior presente de nossas vidas: nossa primeira filha, Maria Rita. Depois de oito anos de casados, finalmente fomos abençoados com o dom mais precioso: sermos pais.
Embora casados há quase uma década, nos primeiros anos do casamento resolvemos adiar a vinda dos filhos. Essa decisão se mostraria mais tarde infeliz, e depois de uma experiência com Deus, eu e minha esposa nos abrimos verdadeiramente à vinda dos filhos. Isso foi em 2018. Ficamos praticamente um ano na expectativa de engravidar, porém nada acontecia.
Com o passar do tempo fomos ficando menos esperançosos, pois ainda pensava que bastava querer para engravidar. Na verdade, hoje percebo que sem a Graça de Deus, a vontade Divina, não há frutos. Começamos então a pedir mais para Deus em nossas orações que nos enviasse um filho, caso fosse da vontade Dele. Caso contrário, ficaríamos felizes também. Conversamos muito sobre a possibilidade de adotar uma criança durante esse período. Essa ideia continua em nossos corações.
Portanto, depois de quase um ano, a expectativa de engravidar era baixa. Então Deus começou a dar alguns sinais de que um filho estava a caminho. Em uma adoração ao santíssimo sacramento, lembro-me claramente que ouvi uma voz dizendo dentro de mim que minha esposa já estava grávida, mesmo ela ainda não estando. Em um cerco de jericó que fizemos, uma irmã de comunidade proclamou a vinda de nossa filha. E por aí vai. Foram vários sinais da presença de Deus nesse processo, mas Ele queria que confiássemos e nos entregássemos ao querer Dele antes.
Foi em uma adoração na TV Canção Nova, conduzida por Pe Adriano Zandoná no dia 09 de julho de 2019, que Deus falou em nossos corações: hoje vocês irão conceber. Não tivemos dúvida e tomamos posse. Hoje, olhando em retrocesso, fica claro esse fato. Porém, durante o processo de gravidez de nove meses, foi muito difícil para os médicos dizer ao certo quando havia sido a concepção. Foi no dia do nascimento que minha esposa fez as contas e chegamos ao fato: foi naquela adoração.
Essa forma de Deus falar com a gente fez toda a diferença. Sabíamos, pela fé, que a Maria Rita era puro desígnio e vontade de Deus. Isso passa uma confiança tremenda perante as mais difíceis situações. A primeira delas aconteceu aos 3 meses de gestação.
No primeiro ultrassom, entramos em grande euforia e felicidade para ver nosso bebê. Logo no início do exame, porém, fui tomado de um grande tormento e sentia que precisava rezar muito. Era por volta do meio dia. A medida que o médico ia examinando a criança pelo vídeo, por fora ia curtindo muito em ver as imagens. Mas por dentro não parava de rezar, especialmente para São Miguel Arcanjo e a Virgem Maria. O mais estranho: eu não sabia porque Deus queria que eu rezasse bem naquele momento. Mas assim o fiz.
Quando o exame terminou, o médico me chamou a parte e deu a notícia: o exame havia sido péssimo. Tudo havia dado errado no ultrassom. A translucência nucal (TN) havia dado muito alterada e outros indicadores que agora não me lembro também. Ele apenas disse que não era para contar para a esposa até que outro exame fosse realizado.
Em casa, mesmo assim, com calma, contei para ela. Ela não ligou muito, pois disse que não acreditava estatiscamente que o TN pudesse apontar anomalias com precisão, e que era comum dar alterado. Eu porém estava com os olhos em outra realidade: nossa pequena criança já estava sendo perseguida pelo inimigo, desde sua concepção! Iniciamos uma novena e aumentamos nossas súplicas a Deus, pedindo para que ele revertesse a sorte de nossa filha. Um dos médicos que nos acompanhava, ao ver o resultado do exame, chegou a comentar que poderia haver a necessidade de um aborto. Isso tudo nos deixou bastante angustiados, mas nunca perdemos a esperança.
Entretanto, em uma quarta feira na missa do clube na Canção Nova, Deus falou conosco através da minha esposa e disse que já havia feito o milagre em nossa filha. Ao repetir o segundo exame, qual foi a alegria ao vermos que o ultrassom havia sido perfeito. O médico ficou impressionado com a diferença entre os dois exames e até exclamou: isso é um milagre!
Como marido tive muitos desafios durante a gestação. Precisei auxiliar minha esposa em muitas coisas, como massagens, compressas, chás, lanches, carinho, atenção, paciência. Nada disso, porém, me incomodava. Sempre curtia muito nossa gravidez e auxiliar ela no dia a dia com pequenas coisas me fez muito feliz. Tive dificuldade apenas com uma coisa: quando saíamos, ela andava muito devagar. Eu ando muito depressa. Isso me causava um desconforto fora do normal. Engraçado como somos provados tanto nas grandes como nas pequenas cosias da vida.
O parto
Um capítulo a parte na gravidez foi a escolha do tipo de parto que queríamos. Antes de engravidarmos, eu não fazia ideia do universo que existe em torno do processo de gestação e do parto.
Existe uma infinidade de especialistas, médicos, palpiteiros, cientistas e até ideologias por trás do tipo de parto que uma mulher deve ter. Porém a força maior que encontramos foi a questão social. Somos de classe média. Temos uma renda alta pois ganhamos mais dinheiro do que precisamos. Temos bens, e nossa família tem uma boa condição financeira. Logo, isso gerou uma grande pressão para que o parto fosse pago. No começo eu até achei normal, mas depois comecei a ficar desconfiado. Algumas pessoas chegavam a me dizer que eu deveria pagar mesmo se fosse um parto normal. Porém, ao falar com o nosso médico, ele disse que se o parto era normal, eu não precisava pagar, era só dar entrada na Santa Casa. Quando contava isso para as pessoas, elas ficavam abismadas com a ideia, e diziam que mesmo assim eu deveria pagar.
Na verdade, a ideia do parto ser normal e ainda pelo SUS causava terror na maioria das pessoas. E também não é por menos. A quantidade de coisas que dão errada nos hospitais públicos deste país deixa qualquer um alarmado. Apesar de tudo isso, queríamos muito que o parto da Maria Rita fosse normal.
Digna de elogios foi a atitude de minha esposa, que mesmo em face de poder fazer uma cesária em um hospital particular, decidiu desde o principio pelo parto normal pelo SUS. Ela sempre acreditou que este era o melhor caminho.
Entre tantas indecisões, resolvi perguntar a Deus o que ele queria que fizéssemos. Em um domingo, antes da missa, fui ao santíssimo e me coloquei em oração para ouvi-lo. Foi então que me veio na memória uma recordação que vive quando ficamos internados na Santa Casa com minha sogra. Uma das acompanhantes de um paciente, que mais tarde viria a se tornar nossa amiga, uma pessoa verdadeiramente simples, olhando para a ala particular que na época ainda estava sendo construída me disse: “Olha lá Marco, é ali que as pessoas ricas ficam”. Na época dei risada da simplicidade dela. Mas anos depois, ali ao receber essa memória, senti que a vontade de Deus era que ganhássemos na Santa Casa, na ala não rica do hospital.
Depois deste dia entendi uma coisa importante: muitas vezes não queremos ouvir a vontade de Deus porque temos medo da resposta Dele. Ou seja, confiamos, desconfiando. Nossos meios sempre são bons e seguros então por que ir por outros caminhos? Por que perguntar a Deus se essa ou aquela situação são de seu agrado, se já é do nosso? Certa vez chegaram a me afirmar que a vontade de Deus era o parto pago por cesária e ponto final. Mas em verdade disse Jesus em São João 3, 8:
O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito.
Logo, não é possível restringir Sua vontade a essa ou aquela situação. E a resposta Dele para essa situação era parto normal pelo SUS. Não tenha medo. Depois de obter a resposta de Deus, fomos tomados de grande paz e fortaleza interior para seguir por este caminho.
Finalmente chegamos ao relato do dia do parto propriamente dito. E aqui aconteceu algo extraordinário: foi um dia especial, cheio da presença de Deus. Tudo começou as 6 horas da manhã, no dia de São José, patrono das famílias.
Fui acordado pela Raquel dizendo que as contrações (finalmente!) estavam ritmadas. A cada dez minutos uma contração. Rezamos o terço e nos preparamos para aquele que seria ser o dia mais especial de nossas vidas.
Curioso notar que já sabíamos no coração que aquele era o dia. Seis meses antes o médico havia dito que ela poderia nascer a partir do dia 19 de março (podendo varia até quatro semanas). Porém dentro de mim aquela seria a data. Toda a preparação foi feita pensando no dia 19 de março. Minha esposa, ao jeito dela, teve experiência semelhante. Porém tudo então na mais pura fé. Agora estávamos vendo aquilo acontecer.
Naquela manhã, ao perceber que o dia seria diferente, fui tomado de uma grande necessidade de me confessar. Fui até a igreja e peguei o padre bem na porta. Depois de me preparar espiritualmente, voltei para casa e seguimos lutando com as contrações.
Lá pelo meio dia, levei minha grávida para o posto de saúde ao lado de casa para medir a pressão, que estava alta ultimamente. Isso se mostraria um ameaça ao parto normal pedido por Deus, mas não passou disso, uma ameaça.
Depois do posto de saúde, resolvemos ir até a Santa Casa da cidade de Queluz, que é muito pequena e não tem maternidade, para medir a dilatação, pois as dores estavam muito ritmadas e aumentando bastante. A pressão deu na casa dos 18 e o médico de plantão identificou um líquido que parecia mecônio, aumentando consideravelmente o risco da gravidez. Contudo, fomos avisados que seríamos transferidos para a maternidade da Santa Casa da cidade de Cruzeiro-SP o mais rápido possível, de UTI móvel.
Isso tudo poderia (deveria) perturbar qualquer casal de pais, especialmente de primeira viagem. Porém, gozávamos de grande alegria e paz, devido à graça de Deus. Eu sentia que todos estavam errados sobre aquilo e que Deus só estava usando todos ao nosso redor para abrir as portas que precisávamos.
Ao chegar no hospital, tive que esperar por quase duas horas para entrar no quarto de preparação para o parto. Nesse período, sofri algumas provações, mas me mantive em oração através do santo terço. Em dias assim, é normal rezarmos três ou quatro terços sem nem percebermos.
Finalmente pude entrar no grande quarto onde Raquel estava esperando para dar a luz. Foi uma cena marcante: ao me ver seu rosto mudou imediatamente em dor. Segunda ela, naquele momento que entrei, as contrações ganharam um novo nível, jamais sentido antes.
Começamos a trabalhar em equipe: ela sofrendo as dores do parto e eu fazendo o papel de doulo e intercessor. Vou comentar a seguir as três experiências, que resumem a nossa fase de trabalho de parto.
Começando pelo trabalho de parto e as dores: nada do que li, me contaram ou imaginei chegava perto daquilo, especialmente no final. A fase final do trabalho de parto durou das 14:30 às 18:30, hora do parto. No quarto preparado para umas 6 grávidas, ficamos sozinhos. O banheiro era gigante. Parecia que estávamos num hotel, carinhosamente preparado pela Divina Providência.
As dores começaram com contrações tão fortes que faziam Raquel perder a capacidade de observar o seu entorno. É aquele momento que a pessoa sente tanta dor que nem se importa com o que fazem com ela, ou o que passa ao seu redor. Essas contrações duravam cerca de um minuto ou dois minutos. Depois desse período paravam totalmente, ela podia relaxar por alguns minutos, até que a dor vinha novamente. Essa agonia durou umas três horas.
No final, porém, especialmente na última hora, essa dor se transformou em algo irreal. A face dela se desfigurou e já não conseguia mais escutar nem enxergar direito. Se curvou na cama em um estado lastimável e a cada contração, além da dor extrema, sangue começava a sair. Foi nesta hora que vi o Cristo. Pausa para respiração do leitor.
Sim, é isso, foi possível ver Cristo sofrendo ali. Falo com certa naturalidade e confiança, pois já tinha passado por uma situação semelhante com minha sogra. Em certa altura do suplício dela, o sofrimento devido a feridas, infecções e aos órgãos que iam parando, era tão grande, que Deus me deu a graça de ver seu Filho ali, sofrendo na minha sogra. Essa visão não chega a atingir os olhos da carne, pois sou muito pecador para receber tão grande graça, dada a muitos santos.
Porém, é uma visão mental e espiritual, que muda o simples sentimento humano de pena pela pessoa em uma incrível compaixão, impossível ao meu ver para qualquer ser humano em seu estado puramente natural. Naquela hora, seria capaz de morrer por ela.
Esse relato de dor é incrível, mas deve ser seguido pelo relato de marido doulo que precisei ser. Durante o trabalho de parto inteiro, no momento em que as contrações começavam, eu fazia uma massagem na parte inferior das costas, de forma circular com uma ou duas mãos. Importante lembrar que a massagem não deveria ter muita pressão, pois isso causava dor. A massagem tinha que ser de leve, porém intensa, como se estivesse esfregando as costas para produzir calor. Segundo ela, fornecia grande alívio.
O trabalho de doulo seguiu comigo ajudando-a a tomar alguns banhos longos de água quente, que aliviavam a dor. As enfermeiras nos deixaram bem a vontade. Também precisei carregá-la da cama para o banheiro várias vezes. Importante também foram as palavras de consolo, pois a pessoa em dor de parto sofre uma incrível tentação de querer desistir e precisa ser incentivada.
Finalmente o último e mais importante relato foi o de intercessor. Desde o início do trabalho de parto, levantei um grande clamor ao Espírito Santo, orando em línguas durante todo o processo, pois além de não ter oração plausível na cabeça naquele momento, a intensidade das dores era tanta que qualquer oração que saísse da minha boca não expressaria o que o coração padecia. Aqui agradeço verdadeiramente a Deus e aos meus irmãos da Canção Nova, nos acampamentos que frequentamos, onde pude aprender e exercitar este dom.
Lá pelas 18:00 chegou a médica para medir a dilatação. Quando ela disse que estava 7 e meio, uma grande alegria tomou conta de nossos corações. Depois de tanta dor, achávamos que estaríamos com 4 ou 5 de dilatação, e que chegaríamos no dez apenas no dia seguinte. Isso se mostrou mais tarde ser também uma grande Providência Divina: o sofrimento total foi muito mais curto do que a maioria dos partos.
Depois de medir a dilatação, a médica ensinou Raquel a fazer força da forma correta, para ajudar o bebe a sair mais rápido, disse que voltaria em breve para o parto e retirou-se. Acredito que ela achava que demoraria mais uma ou duas horas. Nos minutos a seguir porém, a dor se transformou em fruto: a cada contração, alguma coisa ia saindo lá de dentro. Eu só olhando.
Chegou um momento que o sangue que saia ficou muito escuro então fui correndo chamar a médica. Ao voltar, ela olhou e exclamou: nossa já está aqui! Começava o parto.
Raquel precisou caminhar da cama do quarto até a mesa na sala de parto ao lado, uma caminhada de uns 10 passos. Porém, no trajeto, parecia que o bebê estava saindo. As dores dela, naquele momento, se transformaram em alegria. Como pode uma situação tão extrema produzir alegria?
Na mesa de parto, foi tudo muito rápido. Tive o privilégio de assistir tudo em primeira mão. O que mais chamou atenção foi que ao nascer, Maria Rita veio dentro da bolsa, que precisou ser rompida. Quando a vi, senti uma sensação única e indescritível, um misto de júbilo e incredulidade, como ficamos quando presenciamos um milagre. Ao ser colocada no seio da mãe, ela arregalou bem os olhos e a encarou, como se a conhecesse. Juntamente com a médica e as enfermeiras, cantamos a música de Nossa Senhora para ela, mãezinha do céu, como se déssemos boas vindas (cantei essa música para ela a gravidez inteira).
Nasceu muito roxinha e sem respirar. Nessa hora a equipe do hospital faz um trabalho impressionante que nem dá para entender direito. Nasceu com 2,2 kgs, muito pequena, mas a termo.
Após os procedimentos padrões, a criança foi levada para o berçário e lá recebeu os cuidados que precisava. A mãe foi para o quarto e eu fui dar a incrível notícia para os familiares e amigos.
A experiência da gravidez e do parto me ensinou lições valiosas:
- As coisas boas da vida, que valem a pena, precisam ser gestadas com paciência.
- As mulheres possuem um dom incrível de gestar e dar a luz. Não temos ideia de como isso as tornam especiais. Meu respeito pelas mulheres, especialmente pela minha, subiu absurdamente após o processo.
- A opinião das pessoas deve ser ouvida sempre, porém a principal opinião que interessa é a de Deus.
- A confiança em Deus começa quando termina a minha confiança em mim mesmo e nos meus meios.
- Precisamos buscar a graça de Deus para encarar as dificuldades da vida. A tentação de ter um parto por cesária e fugir do processo natural, teria tirado de nós essa incrível experiência de fé e amor.
- A internet, principalmente os vídeos, não nos preparam nem em um centésimo para a realidade. Por outro lado, Deus e o amor conjugal bastam.
- O universo gestacional é incrivelmente feminino! Isso é um sinal ruim na minha opinião, de que os homens estão se omitindo.
Concluo agradecendo a Deus por nos ter dado esta incrível vitória, Maria Rita, carinhosamente apelidada entre nós de Vitória de Deus.